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SURGIMENTO DA DOUTRINA ESPÍRITA
SURGIMENTO DA DOUTRINA ESPÍRITA

SURGIMENTO DA DOUTRINA ESPÍRITA

 

Elio Mollo

 
 

NASCIMENTO DE DENIZARD-HIPPOLYTE-LÉON RIVAIL

  

Lyon é uma as maiores cidades francesas, situa-se na junção do Ródano (Rhône) e do Saône e foi fundada em 43 a.C. sobre a colina de Fourvière como uma colônia romana por Munatius Plancus, um tenente de Julio Cesar.

 

Lyon, primeiramente, foi chamada de Lugdunum cujo significado era  "monte de luzes" ou "o monte de corvos".

 

O imperador romano Cláudio foi natural de Lyon e foi o primeiro nascido fora da península itálica. Caracalla, outro imperador romano, também, nasceu em Lyon.

 

Lyon se tornou um ponto de encontro das principais estradas de toda Gália romana, assim, se fez a capital da Gália, graças à sua localização conveniente na convergência dos dois rios navegáveis - o Saône e o Ródano -, e rapidamente se tornou a principal cidade da Gália (1).

 

Era o início do século XIX, dia 3 de outubro de 1804, dezenove horas, quando na antiga cidade de Lyon, na Rua Sala, 76, França, nascia Denizard-Hippolyte-Léon Rivail. Filho do magistrado Jean-Baptiste-Antoine Rivail e Jeanne Louise Duhamel.

 

 

 

NOME DE BATISMO

 

 

 

A Croix-Rousse é uma colina da cidade de Lyon.  Também, é o nome de um bairro situado nessa colina, onde o planalto e encostas fazem parte da sua paisagem.

 

O nome Croix-Rousse (Cruz Avermelhada) provém de uma cruz erguida no século XVI no planalto feita de pedras douradas de Couzon (ou cor ocre). A colina da Croix-Rousse, também, foi apelidada "o morro que trabalha", em oposição ao "morro que reza" - a colina de Fourvière.  Fazia parte da antiga comuna de Cuire-la-Croix-Rousse, situada no planalto, quando em 1852 foi anexada a Lyon, sendo o bairro de Cuire anexado à comuna de Caluire-et-Cuire. Até hoje, a Croix-Rousse é um bairro densamente ocupado, marcado tanto por seu relevo e encostas, como por seu urbanismo singular e por sua história, preservada pelos prédios das antigas tecelagens que ligam uma rua a outra. (2)

Igreja St. Denis

 

 

construído nessa região de Bron, no lugar chamado "La Croix" (A Cruz).

 

 

Foi nessa igreja que Denizard foi batizado em 15 de junho de 1805, em virtude de seus pais serem adeptos da religião católica. Vale destacar que na certidão de batismo seu nome aparece como sendo Hippolyte Léon Denizard Rivail, segundo alguns biográfos (3).

 

A ESCOLA  

Seus primeiros estudos foram realizados em Lyon, sua cidade natal. Mais tarde, com a idade de 10 para 11 anos, Rivail foi enviado para Yverdon, na Suíça, para completar e enriquecer sua bagagem escolar. 

 

O Instituto de Yverdon, que funcionava no castelo construído em 1135 pelo duque de Zähringen. Como era tido uma escola modelo da Europa, era frequentado todos os anos por grande números de estrangeiros.

 

Línguas, raças, crenças, culturas e hábitos diferentes ali se misturavam, aprendendo as crianças e os jovens, na vivência escolar, a lição da fraternidade, da igualdade e da liberdade.

 

A história, a literatura, todos os ramos dos conhecimentos humanos eram ensinados em Yverdon, dentre os quais descrevemos alguns: NOÇÕES GERAIS, PORÉM EXATAS, DE MINERALOGIA, BOTÂNICA, ZOOLOGIA E ANATOMIA COMPARADA; UM CURSO ABREVIADO DE HISTÓRIA NATURAL; ELEMENTOS DE FISIOLOGIA E PSICOLOGIA; LIÇÕES DE FÍSICA EXPERIMENTAL E DE QUÍMICA; ESTUDO DE LÍNGUAS MORTAS OU ANTIGAS (principalmente o grego e o latim); LÍNGUAS ATUAIS DA ÉPOCA (italiana, inglesa, francesa, alemã e outras); ESTUDO GERAL DE MATEMÁTICA (dividido em quatro seções: CÁLCULO TEÓRICO E PRÁTICO, e ARITMÉTICA SUPERIOR; ÁLGEBRA, OU ARITMÉTICA LITERAL E UNIVERSAL; GEOMETRIA; MECÂNICA, COM NOÇÕES DE ASTRONOMIA E GEOGRAFIA MATEMÁTICA.
O Instituto de Yverdon possuía em média 150 alunos que se obrigavam a uma carga horária diária de 10 horas. Aos domingos, numa assembleia geral, passava-se em revista o trabalho da semana. Pestalozzi dava também bastante importância ao canto: cantava-se nos intervalos das lições, nos recreios e nos passeios. A música e o canto adquiriram ali grande impulso entre 1816 e 1817 com o notável compositor suíço Xaver Schnyder von Wartensee.

 

O MESTRE

 

O Instituto de Yverdon era dirigido pelo professor-filantropo de nacionalidade suíça Johann Heinrich Pestalozzi, cujo apostolado pedagógico era bastante conhecido, o que lhe conferiu o cognome de “O Educador da Humanidade”.

 

Pestalozzi pregava que o amor é o eterno fundamento da educação, por isso, nesse Instituto não haviam castigos ou recompensas. O ensino era heurístico, ou seja, aquele em que o aluno é conduzido a descobrir por si mesmo, tanto quanto possível por seu esforço pessoal, as coisas que estão ao alcance de sua inteligência.

 

 

Convém destacar algumas obras literárias de Pestalozzi: Diário de um pai (1777), Crepúsculos de um eremita (1780), Leonardo e Gertrudes (a primeira parte apareceu em 1781, a segunda em 1783, a terceira em 1785 e a última em

 

 1787), Legislação e infanticídio (1783, considerada a primeira obra de sociologia infantil publicada no mundo), Cristóvão e Elisa (1784), Minhas indagações sobre a marcha da natureza no desenvolvimento da espécie humana (1797), Como Gertrudes ensina seus filhos (1801), Discurso de Lenzburg (1809), À inocência (1815) e Canto do cisne (1826) (4).

 

Em Leonardo e Gertrudes ele descreve como Gertrudes ensina seus filhos e destaca a influência de uma mulher na reforma de toda aldeia através da educação. Também realça, como os conhecimentos e habilidades deveriam ser ensinados para as crianças.

 

Para o educador suíço, os sentimentos tinham o poder de despertar o processo de aprendizagem autônoma na criança.

 

Pestalozzi idealizava que a escola deveria ser a extensão do lar bem como inspirar-se no ambiente familiar para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Para ele, só o amor tinha força salvadora, capaz de levar o homem à plena realização moral - isto é, encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina que lhe dá liberdade  (5).

 

Pestalozzi foi um tipo de cristão zeloso, mas não era místico nem preconceituoso, também, não tinha paixões religiosas, apesar de pertencer à Igreja reformada.

 

Acredita-se que Pestalozzi tivesse alguma noção da vida após a morte, pois numa carta que escreveu à sua amiga condessa Franziska Romana von Hallwyl, que procurara consolá-lo da dolorosa perda de um professor, o pedagogo lhe disse, confiante: "Vossa fidelidade e vossa amizade a seguirão no outro mundo, nós reencontraremos e juntos nos rejubilaremos com alegria."

 

HABILIDADES E TENDÊNCIAS

 

Rivail desde pequeno revelou-se ser inteligente, observador e sempre compenetrado de seus deveres e responsabilidades. O hábito da investigação fazia parte da sua natureza, denotando franca inclinação para as ciências e para os assuntos filosóficos. Contam alguns biógrafos que, quando estudava Botânica, Denizard se interessava tanto que passava um dia inteiro nas montanhas próximas a Yverdon, com sacolas às costas, à procura de espécimes para o seu herbário.

 

Aos quinze anos, Rivail já conhecia as divergências religiosas observadas no próprio corpo docente, com alunos católicos romanos e ortodoxos, bem como protestantes de diferentes seitas, a se desentenderem sobre a interpretação dos textos escriturísticos, sobre a validade dos dogmas e de outras questões, embora, no fundo, todos formassem uma família unida pelos laços de amizade que o sadio companheirismo gerara. Tudo isso levou Denizard a conceber, já naquela idade, a ideia de uma reforma religiosa, com o propósito de conseguir a unificação das crenças.

 

EM PARIS

 

Paris é a capital da França e se situa num dos meandros do Sena, centro da bacia parisiense, entre os confluentes do Marne e do Sena rio acima, e do Oise e do Sena rio abaixo. Pouco se conhece da história de Paris antes da ocupação romana, contudo, sabe-se que a região foi habitada desde os tempos pré-históricos. Paris deve seu nome a uma tribo celta dos Parisii, povo gaulês que habitava a região e controlou o território até que foi anexado ao Império Romano. Após conquistá-los, os romanos a rebatizaram como Lutetia Parisiorum e no século IV passou a se chamar Paris. Era uma cidade modesta ofuscada pela grande capital da Gália, Lugdunum (atual Lyon), contudo, quando os francos conquistaram a Gália, Paris foi escolhida como a nova Capital do rei Clovis I.
Em meados do século XIX, Paris medieval, passava por grandes transformações, esgoto tratado, parques públicos, e largas avenidas estavam sendo implantados, assim, a capital da França ganhava pouco a pouco um novo visual (6). Dentro dessa evolução, a Paris dessa época, em breve, iria acolher em seu meio o jovem professor Rivail.

 

 

Embora não se possa afirmar, presume-se que Rivail tenha permanecido no Instituto de Yverdon até 1822, talvez desempenhando a função de submestre, senão, mestre.

Antes de ir para Paris deveria cumprir suas obrigações militares, contudo, conseguiu

se isentar desse serviço. Segundo o biográfo André Moreil: sem nenhum arrependimento, justificando que o militar defende uma pátria que não é necessariamente a do jovem Rivail, pois esta é muito mais ampla e engloba o Universo de todos os homens (7).

Depois seguiu para Paris num dos principais eixos da vida universitária parisiense, onde ficava situado o Liceu Saint-Louis - antigo "Collège d'Harcourt" (8) -, estabelecimento escolar respeitado da Universidade. Nesse meio, Denizard encontraria excelentes oportunidades para continuar suas atividades educacionais.

 

 

 

O CASAMENTO

 Vivendo em Paris, no mundo das letras e do ensino, Rivail conheceu a Srta. Amélie Boudet. De estatura baixa, bem proporcionada, de olhos pardos e serenos, gentil e graciosa, vivaz nos gestos e na palavra, denunciando penetração de espírito, Amélie nasceu em Thiais, comuna do departamento parisiense de Val-de-Marne, a 23 de novembro de 1795. Filha única de Julien-Louis Boudet, proprietário e tabelião, homem portanto bem colocado na vida, e de Julie-Louise Seigneat de Lacombe, recebeu na pia batismal o nome de Amélie-Gabrielle Boudet.
Após cursar a escola primária, a jovem estabeleceu-se em Paris com a família, ingressando numa Escola Normal, de onde saiu diplomada professora de 1ª. classe. Alguns documentos revelam que a Senhorita Amélie também fora professora de Letras e Belas-Artes. Culta e inteligente, chegou a dar à luz três obras, assim nomeadas: "Contos Primaveris", 1825; "Noções de Desenho", 1826; "O Essencial em Belas-Artes", 1828.
Em 6 de fevereiro de 1832, Denizard e Amélie firmam o contrato de casamento. Agora viveriam juntos sobre o mesmo teto até que a morte os separasse.

 

POLIGLOTA

 

Rivail possuía uma instrução extensa e variada, conhecia também outros idiomas, assim como o Alemão - sua língua adotiva; o Inglês, Holandês, inclusive, tinha conhecimentos do Latim e do Grego e algumas línguas latinas nas quais se exprimia corretamente. 

 

O INSTITUTO TÉCNICO

 

Em Paris Rivail fundou um Instituto Técnico nos mesmos moldes do de Pestalozzi. No ano de 1824, Denizard, ou melhor, Professor Rivail, publica seu primeiro livro que era dividido em volumes e tinha como título: Curso Prático e Teórico de Aritmética. Além deste, o Prof. Rivail publicou, até o ano de 1849, os seguintes livros: Plano para o Melhoramento da Instrução Pública;  Gramática Clássica da Língua Francesa; Qual o Sistema de Estudos mais Adequado à Época?; Manual dos Exames para Certificado de Capacidade; Soluções Racionais de Perguntas e Problemas de Aritmética e Geometria; Catecismo Gramatical da Língua Francesa; Programa dos Cursos Ordinários de Química, Física, Astronomia e Fisiologia; Pontos para os Exames na Municipalidade e na Sorbone; Instruções Sobre as Dificuldades Ortográficas.

 

RIVAIL E O MAGNETISMO 

 

Rivail tomou contato com o magnetismo no ano de 1823, ou talvez mesmo um pouco antes; porém, foi em Paris que sua curiosidade foi despertada para esta ciência, quando o marquês de Puységur - juntamente com d'Eslon, professor e regente da Faculdade de Medicina de Paris, mais o sábio e naturalista Deleuze -, deu novos rumos a esta ciência através da modificação dos métodos de Mesmer, que culminaram na descoberta do sonambulismo provocado. Denizard refere-se elogiosamente a esses magnetistas franceses, ombreando-lhes outros nomes, como o do barão Du Potet e o do Sr. Millet.
Rivail estudou criteriosamente essa disciplina, tendo devorado grande número de obras favoráveis e contrárias escritas por homens de evidência. Diz Anna Blackwell,

no prefácio à sua tradução inglesa de "O Livro dos Espíritos", que Rivail tomou parte ativa nos trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris, uma das mais importantes da França. Fez muitos amigos nessa corrente de ideias, dentre eles o magnetizador Sr. Fortier.  

AS MESAS GIRANTES

 

As "mesas girantes" num salão parisiense (Revista "L'Illustration", 1853)

 

Contava Rivail 51 anos de idade em 1854 quando, através do Sr. Fortier, tomou conhecimento das mesas girantes que lhe narrou tais fatos. Não foi cético ao extremo, pois conhecia o magnetismo e sabia que o fluído magnético, uma espécie de eletricidade, podia atuar sobre os corpos inertes. Mas pouco tempo depois, em outro encontro, ao lhe narrar outros fatos sobre a mesa girante no intuito de convencer Rivail, este lhe respondeu: “Só acreditarei vendo, e quando me provarem que a mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que pode tornar-se sonâmbula.” (9)

No início de 1855, encontrou-se com um amigo que o conhecia há 25 anos, o Sr. Carlotti, que lhe falou, também, desses fenômenos. Como era ardente e apaixonado, além de possuidor de uma bela alma, não se deixou de pronto convencer pela exaltação do amigo. Apenas lhe respondeu: “Não digo que não. Veremos mais tarde.” (9)

 

 

Rivail aceitava a possibilidade do movimento por uma força mecânica, mas, ignorando a causa e a lei do fenômeno, parecia-lhe absurdo atribuir inteligência a uma coisa puramente material. Estava ele na posição dos incrédulos desta nossa época (2012), que negam porque apenas presenciam um fato que não compreendem. Vivia-se numa época em que o fato era ainda inexplicado, aparentemente contrário às leis da Natureza, o que sua razão lhe impedia aceitar. Ainda não havia visto nem observado nada. As experiências feitas na presença de pessoas de caráter e dignas de toda a confiança lhe confirmavam a possibilidade do efeito puramente material, porém, a ideia de uma mesa falante não lhe podia ainda fazer sentido.

 

OBSERVANDO E INVESTIGANDO OS FENÔMENOS

 

Em maio de 1855, estando na casa da sonâmbula Sra. Roger com o Sr. Fortier, magnetizador dela, encontrou-se com o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemason, que lhe falaram sobre as mesas girantes, mas agora em outro tom, instrutivo e sério, convidando-o a assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. de Planemaison. Rivail aceitou solícito em encontro marcado para uma terça-feira às 8 horas da noite.

 

Cesta de bico do século XIX usada na época em que Denizard Hippolyte León Rivail presenciou pela primeira vez alguns ensaios da escrita mediúnica

 

Foi ali que Rivail testemunhou pela primeira vez o fenômeno das mesas girantes que saltavam e corriam em condições indubitáveis. Inclusive, presenciou ele igualmente alguns ensaios, ainda imperfeitos, da escrita mediúnica numa ardósia com o auxílio de uma cesta.

 

Atento, entreviu no fundo daquela suposta futilidade algo de sério, um fato que devia ter uma causa, poderia estar ali a revelação de uma nova lei, e prometeu a si mesmo que iria investigar a fundo para encontrar a causa desses acontecimentos surpreendentes.

 

 

Em uma dessas reuniões da Sra. Plaineimaison conheceu a família Baudin. Foi quando o Sr. Baudin o convidou para assistir às sessões que aconteciam semanalmente em sua casa. Surgia aí uma oportunidade para estudar e observar mais atentamente as causas geradoras desses fenômenos. Rivail passou a ser um frequentador assíduo dessas reuniões assaz concorridas, já que a entrada era franqueada a todo e qualquer interessado.

 

 

 

Duas médiuns, filhas do Sr. Baudin, escreviam numa ardósia com o auxílio de uma cesta chamada pião. A cesta nada mais era do que um porta-lápis e um apêndice da mão ou um intermediário entre a mão e o lápis (10). Esse método requer a participação de duas pessoas, excluindo assim a possibilidade da influência das ideias do médium. Foi assim que Rivail presenciou comunicações seguidas de respostas dadas às questões apresentadas, inclusive às perguntas que eram feitas mentalmente, fazendo entrever, com evidência, a intervenção de uma inteligência estranha atuando através do médium.

 

 

 

Com o tempo a cesta pião foi substituída por uma espécie de mesa em miniatura, com três pés, sendo um deles o suporte do lápis. Diversos outros dispositivos foram desenvolvidos. Finalmente, chegou-se à conclusão de que os Espíritos poderiam agir diretamente na mão do médium (como geralmente escrevemos), e esse método é usado até os dias de hoje (10).

 

 

Figura a esquerda:

Mesa em miniatura de doze a quinze centímetros de comprimento

por cinco a seis de altura, com três pés, sendo que num dos pés se adaptava

 um lápis. Usada no século XIX para a escrita mediúnica.

 

Foto a direita:

Psicografia direta.

 

 

O ESPÍRITO ZÉFIRO

 

O Espírito que habitualmente se manifestava era conhecido pelo nome de Zéfiro, completamente de acordo com o seu caráter e o da reunião, onde os assuntos tratados eram geralmente frívolos, tratando da vida mundana e do futuro da vida material de cada um dos presentes que o consultava.

 

Dizia Rivail que, apesar de tudo, o Espírito Zéfiro era muito bom, e declarava-se protetor da família, sabia fazer rir os participantes, e, quando era necessário, dava bons conselhos, muitas vezes, com ditos satíricos e espirituosos.

 

Em pouco tempo Zéfiro lhe ofereceu provas de grande simpatia, onde mais tarde, assistido por Espíritos superiores, ajudou-o significativamente nos seus primeiros trabalhos espíritas.  

 

PRIMEIROS TRABALHOS ESPÍRITAS

 

Foi nessas reuniões, na casa da família Baudin, que ele desenvolveu seus primeiros trabalhos importantes sobre Espiritismo, muito mais pela observação do que pelas revelações.

 

Diz Rivail sobre o seu trabalho iniciático do Espiritismo:

 

“Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até então, o método da experimentação; jamais utilizei teorias preconcebidas: observava atentamente, comparava, deduzia as consequências; dos efeitos procurava remontar às causas, pela dedução e o encadeamento lógico dos fatos, não admitindo uma explicação como válida senão quando podia resolver todas as dificuldades da questão. Foi assim que sempre procedi em meus trabalhos anteriores, desde os 15 anos de idade. Compreendi, desde logo, a seriedade da exploração que iria empreender; entrevi, nesses fenômenos, a chave do problema, tão obscuro e tão controverso, do passado e do futuro da Humanidade, a solução do que havia procurado em toda a minha vida; era, em uma palavra, toda uma revelação nas ideias e nas crenças; seria preciso, pois, agir com circunspeção, e não levianamente; ser positivo e não idealista, para não se deixar iludir.

 

Um dos primeiros resultados de minhas observações foi que os Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não tinham a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber estava limitado ao grau de seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida desde o princípio, me preservou do grande escolho de crer em sua infalibilidade, e me impediu de formular teorias prematuras sobre o dizer de um só ou de alguns.” (9)

 

O MUNDO INVISÍVEL E SEU IMENSO CAMPO PARA EXPLORAÇÕES

 

O fato da possibilidade da comunicação com os Espíritos, não importando o que dissessem, provava a existência de um mundo invisível. Um campo imenso às suas explorações que indicavam, também, ser a chave de uma multidão de fenômenos inexplicados. Outro ponto importante é que ele poderia conhecer o estado desse mundo bem como os seus hábitos e costumes. Rivail percebeu em pouco tempo que cada Espírito que se comunicava, pela sua posição pessoal e pelo seu conhecimento, cada um, lhe desvendava algum aspecto desse mundo invisível, da mesma maneira que se chega ao conhecimento de um país entrevistando os habitantes de todas as classes e condições sociais, com cada um oferecendo uma informação ou um ensino.

 

Diz ele sobre isso:

 

“Cabe ao observador formar o conjunto com a ajuda de documentos recolhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e controlados uns pelos outros. Agi, pois, com os Espíritos, como o teria feito com os homens; foram para mim, desde o menor ao maior, meios de me informar, e não reveladores predestinados.” (9)

 

DA FRIVOLIDADE À SERIEDADE DOS TRABALHOS ESPÍRITAS

 

A disposição adotada pelo professor Rivail em seus estudos espíritas foi sempre seguir a seguinte regra: observar, comparar e deduzir.

 

Se até então as sessões na casa do Sr. Baudin não tinham um objetivo determinado, Rivail, pelo seu jeito professoral e questionador, mudou naturalmente essa situação, pois nessas entrevistas com os Espíritos, antesfrívolas, agora se procurava resolver problemas importantes e de grande interesse sob o ponto de vista da Filosofia, da Psicologia e da natureza do mundo invisível: ele ia a cada reunião com uma série de perguntas preparadas e metodicamente dispostas, às quaisos Espíritos lhe respondiam com precisão, profundidade e lógica. A partir de então, se por algum motivo desse Rivail a faltar em alguma sessão, os participantes ficavam sem saber o que fazer. 

 

PROJETANDO E ELABORANDO O LIVRO DOS ESPÍRITOS

 

A princípio, o professor Rivail só tinha por objetivo instruir-se; contudo, quando percebeu que aquelas informações formavam um conjunto e que tomavam proporções de uma Doutrina, resolveu torná-las públicas para a instrução de todos. Futuramente, essas informações, com questões e respostas, desenvolvidas e completadas, constituiriam a base de O Livro dos Espíritos.

 

“Tudo foi obtido pela escrita, por intermédio de diversos médiuns.” Os primeiros médiuns que concorreram para a elaboração desse livro foram as Srtas. Baudin, cuja boa vontade jamais lhes faltou: “quase todo o livro foi escrito por intermédio delas em presença de numeroso publico que assistia às sessões com o mais vivo interesse.” (11)

 

O GUIA ESPIRITUAL

 

Em 25 de março de 1856, na casa do Sr. Baudin, através da médium Srta. Baudin, teve pela primeira vez contato com o seu guia espiritual. Dias antes ouviu batidas noturnas repetitivas no tabique que separava sua casa, situada à Rua dos Mártires, 8, 2ª andar, do cômodo vizinho. Na sessão daquele dia, então, travou-se a seguinte entrevista:

 

“– P. ...poderíeis dizer-me a causa dessas pancadas que se fizeram ouvir com tanta persistência (em minha casa)?

– R. Era teu Espírito familiar.

 

– P. Com que objetivo vinha bater assim?

– R. Queria se comunicar contigo.

 

– P. Poderíeis dizer-me o que é que ele queria de mim?

– R. Podes perguntar a ele mesmo, porque está aqui.

 

(...)

 

P. – Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, vos agradeço por terdes ido visitar-me; Poderíeis dizer-me quem sois?

R. Para ti, me chamarei A Verdade, e todos os meses, aqui, durante um quarto de hora, estarei à tua disposição. (...) (9)

 

Em 17 de junho de 1856, ainda na casa do Sr. Baudin e através da sua filha médium, Rivail pergunta ao Espírito (a Verdade):

 

“P. – Uma parte da obra já foi revista. Poderíeis ter a bondade de dizer o que dela pensais?

R. – O que foi revisto está bem; mas, quando tudo acabar, será preciso revê-la ainda, a fim de estendê-la sobre certos pontos, e abreviá-la em outros.(9)

 

Em 11 de setembro de 1856, também, na casa dos Baudin, depois de haver feito a leitura de alguns capítulos do futuro Livro dos Espíritos, referente às leis morais, a médium Srta. Baudin escreveu espontaneamente:

 

"Compreendestes bem o objetivo de teu trabalho; o plano está bem concebido; estamos contentes contigo. Continua,mas, sobretudo, quando a obra estiver terminada, lembra-te de que nós te recomendaremos fazê-la imprimir e propagá-la: é de uma utilidade geral. Estamos satisfeitos, e não te deixaremos jamais. Crê em Deus e caminha." Esta mensagem foi assinada assim: “Muitos Espíritos.”(9)

 

REVISANDO A OBRA

 

Nesse ano de 1856, Rivail acompanhou também as reuniões espíritas que aconteciam na casa do Sr. Roustan; a Srta. Japhet era a médium sonâmbula. Aqui, as reuniões eram sérias e ordeiras. Como o trabalho de Rivail estava quase acabado, pronto para um livro, ele resolveu revê-lo entrevistando outros Espíritos mediante outros médiuns. Inicialmente teve a ideia de fazer objeto de estudo, mas no fim de algumas sessões os Espíritos preferiram vê-lo na intimidade e, para esse efeito,  marcaram certos dias,  em que trabalhariam com a Srta. Japhet, a fim de o fazerem com mais calma, objetivando também evitar indiscrições e comentários prematuros do público. Contudo, Rivail não se contentou com essa verificação que os próprios Espíritos lhe recomendaram.

 

 

 

Assim, Rivail procurou se relacionar com outros médiuns e sempre que surgia uma ocasião, aproveitava para propor algumas das perguntas, principalmente as que lhe pareciam mais espinhosas. Foi assim que, nesse trabalho de revisão, mais de dez médiuns lhe prestaram assistência. Isso aconteceu através da comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da meditação; Assim se formou a primeira edição de O Livro dos Espíritos, que apareceria para o público a 18 de abril de 1857.

  

A parte essencial do trabalho de revisão foi feita com o concurso da senhorita Japhet que se prestou, com a maior complacência e o mais completo desinteresse, a todas as exigências dos Espíritos. A Sta. Japhet,  que também era uma sonâmbula muito notável, tinha o tempo da sua vida particular completamente empregado, mas compreendeu a necessidade da utilidade desse trabalho em favor da propagação da Doutrina e dedicou-se de boa vontade a essa tarefa. (11)

 

Nessa obra Rivail usou o pseudônimo de Allan Kardec, sugerido por um Espírito.

 

DE RIVAIL À KARDEC

 

Em 1856, o professor Rivail recebe dos Espíritos a revelação do trabalho que tem de desenvolver na Terra. E assim surge o pseudônimo Allan Kardec, com o intuito separar das obras pedagógicas escritas pelo professor Rivail, as obras da codificação que eram feitas agora pelo Sr. Allan Kardec. O pseudônimo foi escolhido porque correspondia a um nome que teria usado em uma encarnação pregressa revelada por um Espírito que se denominava Z (como vimos anteriormente, Zéfiro), que dizia conhecê-lo de remotas existências, uma das quais passada no mesmo solo da França, onde a sua individualidade tinha revestido a personalidade de um druida (12) chamado Allan Kardec. E com esse pseudônimo assinou todas as suas obras espíritas.

 

A MENSAGEM DO ESPÍRITO Z OU ZÉFIRO

 

Em janeiro de 1857, quando já havia enviado para a editora imprimir O Livro dos Espíritos, o Espírito Z havia prometido escrever-lhe uma carta por ocasião do Ano Novo. Nesse dia, na casa do Sr. Baudin, Z tinha algo de particular a dizer-lhe. Eis o que escreveu pela médium Srta. Baudin, na intimidade, para o agora Allan Kardec:

 

“Caro amigo, não quis te escrever, na última terça-feira, diante de todo o mundo, porque há certas coisas que não se podem dizer senão entre nós.

 

Queria primeiro te falar de tua obra, a que fazes imprimir (O Livro dos Espíritos estava no prelo.) Não te canses tanto noite e dia; terás mais resultado, e a obra não perderá por esperar.

 

Segundo o que vejo, és muito capaz de levar a bom termo a tua empresa e tens que fazer grandes coisas. Nada, porém, de exagero em coisa alguma. Observa e aprecia tudo judiciosa e friamente. Não te deixes arrastar pelos entusiastas, nem pelos muito apressados. Mede todos os teus passos, a fim de chegares ao fim com segurança. Não creias em mais do que aquilo que vejas; não desvies a atenção de tudo o que te pareça incompreensível; virás a saber a respeito mais do que qualquer outro, porque os assuntos de estudo serão postos sob as tuas vistas.

 

Mas, ai! a verdade não será ainda conhecida, nem acreditada, por todos, antes de muito tempo! Não verás, nesta existência, senão a aurora do sucesso de tua obra; será necessário que retornes, reencarnado num outro corpo, para completar o que tiveres começado, e, então, terás a satisfação de ver, em plena frutificação, a semente que tiveres difundido sobre a Terra.

 

Terás invejosos e ciumentos que procurarão te denegrir e contrariar; não te desencorajes; não te inquietes com o que se dirá ou se fará contra ti; prossegue tua obra; trabalha sempre pelo progresso da Humanidade, e serás sustentado pelos bons Espíritos, enquanto perseverares no bom caminho.

 

Lembra-te de que, há um ano, prometi a minha amizade àqueles que, durante o ano, fossem convenientes em toda a sua conduta? Pois bem! anuncio-te que és um daqueles que escolhi entre todos.

 

Teu amigo que te ama e te protege, Z.” (9)

 

O ESPÍRITO Z SEGUNDO KARDEC

 

Como vimos, Rivail havia dito que Z não era um Espírito superior, mas muito bom e benevolente. Diz Allan Kardec sobre ele: “Talvez fosse mais avançado do que o nome que tomou poderia fazer supor; pode-se supô-lo a julgar pelo caráter sério e a sabedoria de suas comunicações, segundo as circunstâncias. Em favor de seu nome, poderia se permitir uma linguagem familiar, própria ao meio onde se manifestava, e dizer, o que lhe acontecia frequentemente, duras verdades sob a forma alegórica do epigrama (pequeno poema satírico). Seja como for, sempre conservei dele uma boa lembrança e o reconhecimento pelos bons conselhos que me deu e a amizade que me testemunhou. Desapareceu com a dispersão da família Baudin, dizendo que logo deveria reencarnar.” (9)

 

LANÇAMENTO D’OLIVRO DOS ESPÍRITOS

 

 

Em 18 de abril de 1857, na Galeria D'Orleans, local da Livraria Dentu, era lançado ao público a primeira edição de O Livro dos Espíritos. Que trazia em seu frontispício os seguintes dizeres: “O Livro dos Espíritos, contendo os princípios da doutrina espírita acerca da natureza, manifestação e relações dos espíritos com os homens; das leis morais; da vida presente, vida futura e porvir da humanidade. Escrito e publicado conforme o ditado e a ordem de espíritos superiores por Allan Kardec.” (13). 

 

Escreveu Allan Kardec na Revista Espírita de janeiro de 1858: "...declaramos desde o princípio, e temos a satisfação de reafirmar agora, jamais pensamos em fazer de O Livro dos Espíritos objeto de especulação: Seu produto será aplicado nas coisas de utilidade geral." (11)

A Galeria D'Orleans foi local da Livraria Dentu

e do lançamento de O Livro dos Espíritos.

 

Assim em 18 de abril de 1857 raiou para a humanidade a "Era Espírita", ao surgirem nas prateleiras das livrarias os primeiros volumes de “O Livro dos Espíritos”.

 

SEGUNDA EDIÇÃO D’O LIVRO DOS ESPÍRITOS

 

Em março de 1860, quando do lançamento da segunda edição, através da Revista Espírita de nº. 3 desse ano, escreveu Allan Kardec sobre esta nova edição:

 

“Inteiramente refundida e consideravelmente aumentada.

 

Na primeira edição desta obra, anunciamos uma parte suplementar. Devia compor-se de todas as questões que ali não puderam entrar, ou que circunstâncias ulteriores e novos estudos deveriam originar. Mas como todas se referem a alguma das partes já tratadas, e das quais são o desenvolvimento, sua publicação isolada não teria apresentado nenhuma continuidade. Preferimos aguardar a reimpressão do livro para incorporar todo o conjunto, e aproveitamos para dar à distribuição das matérias uma ordem muito mais metódica, suprimindo ao mesmo tempo tudo quanto tivesse duplo sentido. Esta reimpressão pode, pois, ser considerada como obra nova, embora não tenham os princípios sofrido nenhuma alteração, salvo pouquíssimas exceções, que são antes complementos e esclarecimentos do que verdadeiras modificações. Esta conformidade com os princípios emitidos, malgrado a diversidade das fontes em que foram hauridos, é um fato importante para o estabelecimento da ciência espírita. Prova nossa própria correspondência que comunicações em tudo idênticas, se não quanto à forma, ao menos quanto ao fundo, foram obtidas em diferentes localidades, e isso muito antes da publicação do nosso livro, o que veio confirmá-las e dar-lhes um corpo regular. Por seu lado, a História atesta que a maioria desses princípios tem sido professada pelos homens mais eminentes, dos tempos antigos e modernos, assim trazendo a sua sanção.” (14)

 

DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA ESPÍRITA

 

Em 1° de janeiro de 1858 circula o primeiro número da "Revue Espirite" (Revista Espírita), editada em Paris por Allan Kardec; no mesmo ano foi publicado o livro "Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas", e, ainda nesse profícuo 1858, exatamente a 1° de abril, é fundada a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas".

 

Em 1859 surge o livro "O que é o Espiritismo". A 16 de setembro de 1860 A. Kardec publica a "Carta sobre o Espiritismo", em resposta a um artigo publicado na "Gazette de Lyon". No mês de janeiro de 1861, Allan Kardec lança a público "O Livro dos Médiuns" e, ainda nesse ano, no dia 9 de outubro às 10:30 horas da manhã, em Barcelona, Espanha, são queima­dos num auto de fé trezentos volumes e brochuras sobre Espiritismo, entre eles "O Livro dos Espíritos".

 

Em fevereiro de 1862, Kardec publica "O Espiritismo na sua Expressão mais Simples", e também neste mesmo ano, "Viagem Espírita em 1862".

 

Em 1864 são editadas as seguintes obras: "Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas" ou "Primeira Iniciação" e "Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo", chamado posteriormente de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

 

No dia 1º de agosto de 1865 é publicado o livro "O Céu e o Inferno", ou a "Justiça Divina Segundo o Espiritismo". No ano de 1866 surge a "Coleção de Preces Espíritas", um extrato do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

 

Em 1867 vem a público "Estudo a cerca da Poesia Medianímica" e, em 1868, Kardec lança "A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo", e o livro "Caracteres da Revelação Espírita".

 

ORDEM NO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA

 

Kardec aconselhou aos que desejassem adquirir noções preliminares do Espiritismo, pela leitura das obras já existentes, sugerindo que as lessem na seguinte ordem (15):

 

1º - O que é o Espiritismo? Esta brochura, de uma centena de páginas somente, contém sumária exposição dos princípios da Doutrina Espírita, um apanhado geral desta, permitindo ao leitor apreender-lhe o conjunto dentro de um quadro restrito. Em poucas palavras ele lhe percebe o objetivo e pode julgar do seu alcance. Aí se encontram, além disso, respostas às principais questões ou objeções que os novatos se sentem naturalmente propensos a fazer. Esta primeira leitura, que muito pouco tempo consome, é uma introdução que facilita um estudo mais aprofundado.

 

2º - O Livro dos Espíritos. Contém a doutrina completa, como a ditaram os próprios Espíritos, com toda a sua filosofia e todas as suas consequências morais. E a revelação do destino do homem, a iniciação no conhecimento da natureza dos Espíritos e nos mistérios da vida de além-túmulo. Quem o lê compreende que o Espiritismo objetiva um fim sério, que não constitui frívolo passatempo.

 

3º - O Livro dos Médiuns. Destina-se a guiar os que queiram entregar-se à prática das manifestações, dando-lhes conhecimento dos meios próprios para se comunicarem com os Espíritos. E um guia, tanto para os médiuns, como para os evocadores, é o complemento de O Livro dos Espíritos.

 

4º - A Revue Spirite. Variada coletânea de fatos, de explicações teóricas e de trechos isolados, que completam o que se encontra nas duas obras precedentes, formando-lhes, de certo modo, a aplicação. Sua leitura pode fazer-se simultaneamente com a daquelas obras, porém, mais proveitosa será, e, sobretudo, mais inteligível, se for feita depois de O Livro dos Espíritos.

 

LIBERDADE NO ESTUDO E AS ESCOLHAS POR COMPARAÇÃO

 

N’O Livro dos Médiuns, Kardec aconselhou o seguinte: Os que desejem tudo conhecer de uma ciência devem necessariamente ler tudo o que se ache escrito sobre a matéria, ou, pelo menos, o que haja de principal, não se limitando a um único autor. Devem mesmo ler o pró e o contra, as críticas como as apologias, inteirar-se dos diferentes sistemas, a fim de poderem julgar por comparação.

 

Por esse lado, não preconizamos, nem criticamos obra alguma, visto não querermos, de nenhum modo, influenciar a opinião que dela se possa formar. Trazendo nossa pedra ao edifício, colocamo-nos nas fileiras. Não nos cabe ser juiz e parte e não alimentamos a ridícula pretensão de ser o único distribuidor da luz. Toca ao leitor separar o bom do mau, o verdadeiro do falso. (15)

 

Em 1869, um pouco antes da sua morte em o Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita escreveu Kardec o seguinte: Proibir um livro é dar mostras de que o tememos. O Espiritismo, longe de temer a divulgação dos escritos publicados contra ele e interditar sua leitura aos adeptos, chama a atenção destes e do público para tais obras, a fim de que possam julgar por comparação.

 

RETORNO A PÁTRIA ESPIRITUAL

 

Depois deste grandioso trabalho, no dia 31 de março de 1869, com 65 anos de idade, em Paris, vítima da ruptura de um aneurisma, Allan Kardec retorna à Pátria Espiritual. Sua missão se completa, no entanto, somente no ano de 1890, quando é editado o livro "Obras Póstumas", reunindo os últimos escritos do grande Codificador.

 

NOTAS: 

(1) Lyon: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lyon e Cláudio: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A1udio(Wikipédia).

(2) Croix-Rousse: https://pt.wikipedia.org/wiki/Croix-Rousse (Wikipédia).

(3) WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec: o educador e o codificador, vol. I. p. 96, Rio de Janeiro: FEB, 2004

(4) IBEM - Instituto Brasileiro de Educação Moral: https://www.educacaomoral.org.br/pesta_lozzi.htm

(5) Educar para Crescer: https://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/pestalozzi-307416.shtml

(6) Paris: https://pt.wikipedia.org/wiki/Paris

(7) Vida e Obra de Allan Kardec- André Moreil, 1977 - Editora EDICEL.

(8) O Colégio Harcourt foi fundado em Paris em 1280 e fechado em 1793. Foi uma instituição pública francesa de ensino superior localizada a  rua da Harpa, 94 em Paris, depois passou a se chamar Liceu Saint-Louis. (Fonte: https://fr.wikipedia.org/wiki/Coll%C3%A8ge_d'Harcourt)

(9) Obras Póstumas (1890), 2ª. parte.

(10) O Livro dos Médiuns, 2ª. parte, Psicografia, item 157.

(11) Revista Espírita, janeiro de 1858, O Livro dos Espíritos.

(12) Druidas (e druidesas) eram pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento, ensino, jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta. Embora não haja consenso entre os estudiosos sobre a origem etimológica da palavra, druida parece provir de oak (carvalho) e wid (raiz indo-europeia que significa saber). Assim, druida significaria aquele(a) que tem o conhecimento do carvalho.[carece de fontes?] O carvalho, nesta acepção, por ser uma das mais antigas e destacadas árvores de uma floresta, representa simbolicamente todas as demais. Ou seja, quem tem o conhecimento do carvalho possui o saber de todas as árvores. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Druida)

(13) O Livro dos Espíritos, 1ª. edição.

(14) Revista Espírita, março de 1860.

(15) O Livro dos Médiuns, 1ª. parte, cap. III Do Método, item 35.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Allan Kardec - Zêus Wantuil e Francisco Thiesen - Edições FEB;

Vida e Obra de Allan Kardec - André Moreil, 1977 - Editora EDICEL

O Principiante Espírita - Júlio de Abreu Filho - Editora Pensamento

História do Espiritismo - Arthur Conan Doyle - Editora Pensamento

Kardec, Irmãs Fox e outros - Jorge Rizzini - Editora Eldorado Espírita de São Paulo

Grandes Vultos do Espiritismo - Paulo Alves de Godoy - Edições FE­ESP

Espiritismo Básico - Pedro Franco Barbosa - Edições FEB

Revista Informação Nº.35

Obras Póstumas - Allan Kardec - LAKE - Livraria Allan Kardec Editora